quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Vento que Golpeia a Lua





Quanto tempo passei a procurar esta terra
cercada pela luz?
Por acaso não persigo este espaço, a sua mensagem,
depois que abri os olhos para a vida?
Ao fim, achei o mais grego dos mares
nos domínios da barbárie?
E agora, é o bronze que vibra no ar
ou são fustes de mármore a tremerem?
Talvez apenas seja o rumor
do carro de Nausícaa
pelos seixos sagrados, os sorrisos
das que correm com as cabeleiras
a gotejarem pelos ombros, ou o agitar
- como bandeiras ao vento - das túnicas.

E tudo é tão simples: uns enormes pinheiros
que brotam da rocha enegrecida,
surgidos do côncavo transbordante
de um encrespado mar de búzios.
E, um pouco mais além, sonâmbulas brenhas
onde, vagarosos, se embaraçam os cordeiros
e zumbem as abelhas em perfeitas sombras,
e uma torrente que conduz sombrias choupanas sem tecto,
e umas dunas ardentes pelo pólen
parecem aguardar os passos de algum náufrago.

Humilde Sa Caleta!...
O teu azulado coração de rochedo,
os teus ramos pela tarde, que movem um silêncio
quebrado pelos salpicos dos remos
das barcas que zarpam ao acaso,
compensam todo o tempo desejado.

Na verdade, em ti vejo um espaço
inimigo do homem,
pois o fumo apaga vozes e olhares,
e a brisa abre sulcos nas ondas,
e o aroma funde-se com a luz,
e o vento golpeia a lua...
Como a Ulisses,
amarrai-me a um tronco desta costa,
sem me afundar nas águas que me seduzem,
e quero que o seu equilíbrio me ilumine
a desvelar o mistério de todas as noites possíveis.


in Los rumbos del viento
Antonio Colinas
(Espanha)