sexta-feira, 28 de maio de 2010

Eu digo que é Verão


Virás
como um sopro, uma leve
palpitação da carne, um arrepio
na pele encrespada
do desejo. Dirão
alguns que é primavera e o vento
arredonda a saia
das árvores. Eu digo
que é Verão e foi
o amor que chegou.


in Los rumbos del viento
Albano Martins (Portugal)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Falares atados ao silêncio





Morrem por fora outros ventos maduros
arados as magnólias da face osmoses catastróficas
perdidas escalam algas as sombras outras
meninas despidas bocas no diadema
aberta ferida o gesso excesso de realidades
sinos ao cimo o céu despe-se apertado
tudo recolhe e acende o chão da luz por dentro
estes ventos derradeiros falares atados ao silêncio.



in Los rumbos del viento
Abreu Castelo Vieira dos Paxes (Angola)

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Advertencia





Te advierto
Pero me empuja
El engañoso viento
Hacia sus etéreos aljibes

Te advierto
Que también el fuego
Se consume
En roja llamarada

Te advierto,
Que el loro
Encarcela su jaula
Repitiendo balbuceos
           Y silencios
Lejos de la peligrosa selva

Te advierto
Que mis gafas
             De gruesos cristales
Pretenden acercar distancias
A lo alto de mi pecho

Te advierto
No hay retorno
Ni cuerdas de protección
Amortiguando la caída

Te advierto
Ya que anhelas mi olor
También abrazados a los troncos
El viento nos arrasa
Y no es tiempo de volar.


in Los rumbos del viento
Abdul Hadi Sadoum (Iraque)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O Início

Começamos hoje uma nova fase neste blog...

Os poemas que postarei aqui, salvo indicação em contrário, serão retirados do livro "Los Rumbos del viento".

Um livro sem adjectivos, pois todos eles seriam curtos para o descrever.

Adquirido em circunstancialismos de difícil percepção e sentido por mim do fundo do coração...


"

El viento


Os ventos eram tais que não puderam
Mostrar mais força de ímpeto cruel,
Se para derribar então vieram
A fortíssima Torre de Babel.

Nos altíssimos mares, que cresceram,
A pequena grandura dum batel
Mostra a possante nua, que move espanto,
Vendo que se sustém nas ondas tanto.

"

Luís de Camões, Os Lusíadas, 74, C. VI

in Los rumbos del viento



quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sorri =)


Um cigarro que se acende,
Uma mensagem que encaixo
E algo que se aprende:
“Nunca olhes para baixo!”

Quando o céu perde a cor,
Ou quando não vês o caminho,
Quando o momento não tem sabor,
Ou mesmo quando não sentes carinho.

Pensa que há um Menino,
Que se alimenta junto ao mar,
Que pensa em todo o segundo,
Nesse teu doce olhar.

Aquele que junta ondas,
Para mais tarde te oferecer,
Aquele que sempre sonhou
Em te ver adormecer.

Pensa que mesmo muito longe,
Ele não pára de sentir,
Que a única coisa que quer,
É ver-te, Menina, a sorrir.

Não digo que sempre será fácil,
Nem que a lágrima não faz parte,
Mas tenta perceber que tu és,
A inspiração para a sua arte.

E se mesmo assim for difícil,
De enxugar essa tua tristeza,
Lembra-te do seu sorriso,
Que por ser teu, tem beleza.

Então ele viajará distâncias,
Continentes de memórias,
Para se chegar à tua beira
E assistir às tuas glórias.

Porque quilómetros afastam,
Dois corpos bem presentes,
Mas nunca eles distanciam,
Os pensamentos existentes.

E os pensamentos do Menino são teus,
Pensa no teu sorriso e no teu olhar,
E única coisa que ele não quer,
É ver-te, Menina, a chorar.




Diogo Miranda
30-Abr-2007

terça-feira, 11 de maio de 2010

Poema de amor



Desperta o sentido de algo,
Sempre profundo e sentimental,
Algo que não descreves
E que nunca se torna banal.
São rajadas que te ferem
Como lanças que entram para ferir,
Te abanam e te consomem
Com todo o sentimento que há-de vir.
Não sabes nem te libertas,
Por tão dúbia ser a certeza,
Por tão forte ser a pureza
Do ar que te consome.
É de amor?
Sim por certo…
Tornar-se-á em dor?
Se não tiveres o teu alguém por perto.
Porque a distância sempre afecta
Quem não tem a mente aberta,
Quem não tem a postura certa,
Quem não tem a atitude correcta.
É de deixar fluir,
E com a lufada se deixar levar,
Não pensar no rir…
Nem tão pouco no chorar.
Só no fim se saberá,
Se o sumo valeu a expremedura,
Só no fim se cobrará
A quem não nos deu ternura…





Diogo Miranda

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Pedro lembrando Inês


"

Em que pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
Dizer “ Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?” Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor,
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
ele que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.

"


Nuno Júdice
In-Pedro Lembrando Inês

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Vencer !



Que palavras se podem dizer quando uma pessoa termina com sucesso uma etapa importante da vida?

- Parabéns? - Felicidades?...

Permite-me discordar mas, de facto, não acho que qualquer uma delas ou qualquer outra que te possam segredar num momento de emoção, possam descrever aquilo que realmente alguém te quer transmitir. No fundo querem te dizer que sentem uma alegria enorme por verem em ti um sorriso largo, que adoram o facto de te ver crescer e triunfar mas, que adoram ainda mais saber que tu estás bem com isso.

Então olha para trás agora…

Vês o teu passado? Adora-o e estuda-o. Aprende com ele e faz um favor a toda esta gente que ficou horas a matutar naquilo que havia de te escrever: Vence!!
Mas faz dessa vitória uma constante da vida, sem nunca te dares por satisfeita ou saciada, porque, afinal, é nessa luta constante que reside a felicidade da vida.

Diogo Miranda




“Eu aprendi... que todos querem viver no topo da montanha, mas toda a felicidade e crescimento ocorre quando se está a escalá-la.”

William Shakespeare

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Estrelinha





Um dia uma estrela caiu do céu,
E o Senhor jurou que a encontraria,
E assim foi levantando o véu
A toda a menina que sorria.

Mas por mais belas que fossem,
Nenhuma era a do Senhor,
Porque a dele tinha a ternura,
Que se sente quando se faz amor.

A busca foi seguindo,
E tornou-se constante,
Não se lembrava muito dela
Apenas do seu olhar verdejante.

Certo dia ele tropeçou em algo
E reparou que era ela,
Tinha finalmente encontrado
A sua pura donzela.

Mas havia um certo menino
Que já se tinha apaixonado,
E pediu-lhe ao ouvido:
“Deixa-a ficar ao meu lado”.

Eram puras as palavras ditas,
E logo o pedido foi aceite,
Porque eram duas almas bonitas
E verdadeiras como o azeite,
Que vem sempre a cima
E assim se mostra ao mundo,
Tão confiante neste clima
Que transborda um sentimento profundo.

E o Senhor se foi embora,
Lá para cima observar,
Esta nova e bonita história,
Que se começava a desenrolar.

Não sei como irá terminar,
Mas eu acredito naquele menino,
Porque da estrelinha ele vai cuidar,
Com todo o seu amor e carinho.



Dii
2-Mar-2007

terça-feira, 4 de maio de 2010

Ninguém me vê



O mundo passa lá fora,
Eu sento-me cá dentro.

Aqui tenho a segurança do certo,
Não arrisco no incerto,
Mas nem sempre faço o correcto.
Sou feliz sem ilusão, fantasia ou amor.

Lá fora a vida passa-me ao lado.
Não sei o que fazer ou como agir,
Sou livre ao sabor do vento,
Vou para onde me leva,
Todos os dias tenho novo alento,
Tenho a felicidade à minha espera.

Vivo cá dentro parado e seguro,
Envolto em paredes de segurança falaciosa,
Perco as sensações do mundo,
Uma vida nada graciosa...

Aqui não sou eu...
Mas aqui sou seguro...
Porque aqui...
Aqui ninguém me vê...




Diogo Miranda
7 – Jul – 08

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Elogio ao amor




"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas.Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber.
Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.
Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.
O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática.
O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.
Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, banançides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra.
O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos.
Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.
Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo.
O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. é uma questão de azar.
O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra.
A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina.
O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima.
O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente.
O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.
O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.
O amor é uma coisa, a vida é outra.
A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.
Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra.
A vida dura a Vida inteira, o amor não.
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."