quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Revelação do vento


Quietas quedam-se as árvores.
A flor, o singular alarde
da discreta vida em surdina.
No entanto, se ágil na tarde
o ar acorda e em vento sopra
as árvores se põem loquazes:
gesticulam abraçam dançam
sussuram cochicham cantam.
É quando súbito enxergamos
a prisão de troncos e ramos
e a longa noite das raízes.

in Los rumbos del viento
Astrid Cabral
(Brasil)

sábado, 9 de outubro de 2010

Contágio


Se a voz se esgana
e o tóxico ruído das máquinas
me perfura
         vou até ele.

Adenso-me com fervor
no mais sublime da sua biologia

Subo fontes intactas
vou fundo ao ventre das planícies
contagiar a pele e os olhos
embeber as narinas cansadas
nos odores do universo inteiro

Levo-lhe
(porque não sei mentir)
tristes notícias do meu país

- Esta terra que me possui
é uma lágrima
        bolor indigno no pão
              e falso poema -

Nele sou todo um arrepio
movimento retardado e dado
por desejo e condição vadia
beijo destilado num ventre
ou sangue escorrendo
numa bacia

Sorvo-lhe a bravura e o calafrio
o corpo do cio
o rosto no impoluto mar

Conheço-lhe a fome e a rudeza
o beijo desfiado que fecunda
as fêmeas e os animais

Corpor é que oscila e domina
penetra e inflama
músculo de Ulisses
esperança de Helena
frémito de Roma em chamas

Às vezes visito-o
para colher consciência
e reinventar a liberdade

Olhando-o louco
insubmisso
sei-o não ter por condição
palavras indecisas
pupilas mecânicas
dos homens sem paixão

Drogo-me de ele
até mais não
morro e sou mais eu
e ele todo meu em sentir
sem horas ao roçar-lhe na pele
sou um suspiro que aflora

Aí sei...
a civilização não ser
mais que pura intervenção
de regras infundadas limites e
incandescente usurpação.

in Los rumbos del viento
António Teixeira e Castro
(Portugal)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Vento que Golpeia a Lua





Quanto tempo passei a procurar esta terra
cercada pela luz?
Por acaso não persigo este espaço, a sua mensagem,
depois que abri os olhos para a vida?
Ao fim, achei o mais grego dos mares
nos domínios da barbárie?
E agora, é o bronze que vibra no ar
ou são fustes de mármore a tremerem?
Talvez apenas seja o rumor
do carro de Nausícaa
pelos seixos sagrados, os sorrisos
das que correm com as cabeleiras
a gotejarem pelos ombros, ou o agitar
- como bandeiras ao vento - das túnicas.

E tudo é tão simples: uns enormes pinheiros
que brotam da rocha enegrecida,
surgidos do côncavo transbordante
de um encrespado mar de búzios.
E, um pouco mais além, sonâmbulas brenhas
onde, vagarosos, se embaraçam os cordeiros
e zumbem as abelhas em perfeitas sombras,
e uma torrente que conduz sombrias choupanas sem tecto,
e umas dunas ardentes pelo pólen
parecem aguardar os passos de algum náufrago.

Humilde Sa Caleta!...
O teu azulado coração de rochedo,
os teus ramos pela tarde, que movem um silêncio
quebrado pelos salpicos dos remos
das barcas que zarpam ao acaso,
compensam todo o tempo desejado.

Na verdade, em ti vejo um espaço
inimigo do homem,
pois o fumo apaga vozes e olhares,
e a brisa abre sulcos nas ondas,
e o aroma funde-se com a luz,
e o vento golpeia a lua...
Como a Ulisses,
amarrai-me a um tronco desta costa,
sem me afundar nas águas que me seduzem,
e quero que o seu equilíbrio me ilumine
a desvelar o mistério de todas as noites possíveis.


in Los rumbos del viento
Antonio Colinas
(Espanha)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Viento de España



Qué mal viento de España, qué mal viento
el que te llega, Portugal querido.
El viento de una España que ha perdido
el gesto, la figura, el sentimiento.

La España sin razón de este momento,
¿qué estraños españoles ha parido?
La hispana dignidad, ¿dónde se ha ido?
¿Dónde el valor y dónde el juramento?

Ahí te va, Portugal, el triste aliento
de la española tierra, un pueblo herido
por tanto desamor y furia ciega.

Ni viento, Portugal, ni casamiento...
Pero abre el corazón, para el latido
de España, unido al viento que te llega.

in Los rumbos del viento
Andrés Quintanilla Buey
(Espanha)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Debajo del viento



desdibujo un rosto que no existe
los quehaceres de un baúl gigantesco
ancestral obscuridad de un ser que no es
que llevamos a cuestas como el tránsito de una noche
                                                               [inexpugnable,

que al salir de sus marañas se estremece
al querer evadirse se evapora
al dejarse atrás se adentra en otra oscuridad
en otra bruma
en otra noche
que cuanto más aclara más anubla
más pregunta
más opaca;
pesadillas
sueños de pesadilla

apariciones sueños
de apariciones filtran un tañito monótono

y quieren dejar atrás
                y olvidarse:

se fugan
desertan, escapan

asoman debajo del viento

y no hay nadie:

          ni presencias
                  ni olvido
                        ni búsqueda

sólo la penumbra
que cubre papeles dispersos

sólo un parloteo de incendios frágiles
y vericuetos

sólo los grillos
          despiertos
y la rutina que se acomoda
en la floresta

la luna
el frío
el viento...

¿se puede ser feliz?

in Los rumbos del viento
Álvaro Mata
(Costa Rica)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Pontos de vista


Um dia um professor de filosofia entrou na minha sala e, como quem não sabe o que faz, agarrou na sua cadeira e pô-la em cima da mesa. Falou à turma dizendo: " Agora provem-me por escrito que esta cadeira não existe."


Surpreendido, escrevi apenas duas palavras: "Qual cadeira?"

terça-feira, 1 de junho de 2010

Baralhar (teus) sentimentos


Vá, não inventes!
Quero agarrar na tua vida e
baralhar, ser a mão que te pega e
agitar o dia a dia que passa.

A meio do quarto ser
intruso, o Ás de copas que agora
uso, entre a dama de espadas
pôr um pó de sentimento sem abuso.

Depois o Valete que com espadas
surgiu, rasgar a proposta que ninguém
ouviu, dizer ao ouvido sem intenção
que sou aquele que ninguém viu.

Entre as voltas do oito
amizade, há muito que ponderei dizer-te
a verdade, gosto de ti mais do que
devia e mais do que me permite a honestidade.

No final com todo este
baralho, tremem o mindinho e polegar
como galho, sussurro entre passos de mágica
que me vou embora se atrapalho.


Diogo Miranda
1/Jun/2010

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Eu digo que é Verão


Virás
como um sopro, uma leve
palpitação da carne, um arrepio
na pele encrespada
do desejo. Dirão
alguns que é primavera e o vento
arredonda a saia
das árvores. Eu digo
que é Verão e foi
o amor que chegou.


in Los rumbos del viento
Albano Martins (Portugal)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Falares atados ao silêncio





Morrem por fora outros ventos maduros
arados as magnólias da face osmoses catastróficas
perdidas escalam algas as sombras outras
meninas despidas bocas no diadema
aberta ferida o gesso excesso de realidades
sinos ao cimo o céu despe-se apertado
tudo recolhe e acende o chão da luz por dentro
estes ventos derradeiros falares atados ao silêncio.



in Los rumbos del viento
Abreu Castelo Vieira dos Paxes (Angola)

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Advertencia





Te advierto
Pero me empuja
El engañoso viento
Hacia sus etéreos aljibes

Te advierto
Que también el fuego
Se consume
En roja llamarada

Te advierto,
Que el loro
Encarcela su jaula
Repitiendo balbuceos
           Y silencios
Lejos de la peligrosa selva

Te advierto
Que mis gafas
             De gruesos cristales
Pretenden acercar distancias
A lo alto de mi pecho

Te advierto
No hay retorno
Ni cuerdas de protección
Amortiguando la caída

Te advierto
Ya que anhelas mi olor
También abrazados a los troncos
El viento nos arrasa
Y no es tiempo de volar.


in Los rumbos del viento
Abdul Hadi Sadoum (Iraque)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O Início

Começamos hoje uma nova fase neste blog...

Os poemas que postarei aqui, salvo indicação em contrário, serão retirados do livro "Los Rumbos del viento".

Um livro sem adjectivos, pois todos eles seriam curtos para o descrever.

Adquirido em circunstancialismos de difícil percepção e sentido por mim do fundo do coração...


"

El viento


Os ventos eram tais que não puderam
Mostrar mais força de ímpeto cruel,
Se para derribar então vieram
A fortíssima Torre de Babel.

Nos altíssimos mares, que cresceram,
A pequena grandura dum batel
Mostra a possante nua, que move espanto,
Vendo que se sustém nas ondas tanto.

"

Luís de Camões, Os Lusíadas, 74, C. VI

in Los rumbos del viento



quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sorri =)


Um cigarro que se acende,
Uma mensagem que encaixo
E algo que se aprende:
“Nunca olhes para baixo!”

Quando o céu perde a cor,
Ou quando não vês o caminho,
Quando o momento não tem sabor,
Ou mesmo quando não sentes carinho.

Pensa que há um Menino,
Que se alimenta junto ao mar,
Que pensa em todo o segundo,
Nesse teu doce olhar.

Aquele que junta ondas,
Para mais tarde te oferecer,
Aquele que sempre sonhou
Em te ver adormecer.

Pensa que mesmo muito longe,
Ele não pára de sentir,
Que a única coisa que quer,
É ver-te, Menina, a sorrir.

Não digo que sempre será fácil,
Nem que a lágrima não faz parte,
Mas tenta perceber que tu és,
A inspiração para a sua arte.

E se mesmo assim for difícil,
De enxugar essa tua tristeza,
Lembra-te do seu sorriso,
Que por ser teu, tem beleza.

Então ele viajará distâncias,
Continentes de memórias,
Para se chegar à tua beira
E assistir às tuas glórias.

Porque quilómetros afastam,
Dois corpos bem presentes,
Mas nunca eles distanciam,
Os pensamentos existentes.

E os pensamentos do Menino são teus,
Pensa no teu sorriso e no teu olhar,
E única coisa que ele não quer,
É ver-te, Menina, a chorar.




Diogo Miranda
30-Abr-2007

terça-feira, 11 de maio de 2010

Poema de amor



Desperta o sentido de algo,
Sempre profundo e sentimental,
Algo que não descreves
E que nunca se torna banal.
São rajadas que te ferem
Como lanças que entram para ferir,
Te abanam e te consomem
Com todo o sentimento que há-de vir.
Não sabes nem te libertas,
Por tão dúbia ser a certeza,
Por tão forte ser a pureza
Do ar que te consome.
É de amor?
Sim por certo…
Tornar-se-á em dor?
Se não tiveres o teu alguém por perto.
Porque a distância sempre afecta
Quem não tem a mente aberta,
Quem não tem a postura certa,
Quem não tem a atitude correcta.
É de deixar fluir,
E com a lufada se deixar levar,
Não pensar no rir…
Nem tão pouco no chorar.
Só no fim se saberá,
Se o sumo valeu a expremedura,
Só no fim se cobrará
A quem não nos deu ternura…





Diogo Miranda

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Pedro lembrando Inês


"

Em que pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
Dizer “ Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?” Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor,
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
ele que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.

"


Nuno Júdice
In-Pedro Lembrando Inês

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Vencer !



Que palavras se podem dizer quando uma pessoa termina com sucesso uma etapa importante da vida?

- Parabéns? - Felicidades?...

Permite-me discordar mas, de facto, não acho que qualquer uma delas ou qualquer outra que te possam segredar num momento de emoção, possam descrever aquilo que realmente alguém te quer transmitir. No fundo querem te dizer que sentem uma alegria enorme por verem em ti um sorriso largo, que adoram o facto de te ver crescer e triunfar mas, que adoram ainda mais saber que tu estás bem com isso.

Então olha para trás agora…

Vês o teu passado? Adora-o e estuda-o. Aprende com ele e faz um favor a toda esta gente que ficou horas a matutar naquilo que havia de te escrever: Vence!!
Mas faz dessa vitória uma constante da vida, sem nunca te dares por satisfeita ou saciada, porque, afinal, é nessa luta constante que reside a felicidade da vida.

Diogo Miranda




“Eu aprendi... que todos querem viver no topo da montanha, mas toda a felicidade e crescimento ocorre quando se está a escalá-la.”

William Shakespeare

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Estrelinha





Um dia uma estrela caiu do céu,
E o Senhor jurou que a encontraria,
E assim foi levantando o véu
A toda a menina que sorria.

Mas por mais belas que fossem,
Nenhuma era a do Senhor,
Porque a dele tinha a ternura,
Que se sente quando se faz amor.

A busca foi seguindo,
E tornou-se constante,
Não se lembrava muito dela
Apenas do seu olhar verdejante.

Certo dia ele tropeçou em algo
E reparou que era ela,
Tinha finalmente encontrado
A sua pura donzela.

Mas havia um certo menino
Que já se tinha apaixonado,
E pediu-lhe ao ouvido:
“Deixa-a ficar ao meu lado”.

Eram puras as palavras ditas,
E logo o pedido foi aceite,
Porque eram duas almas bonitas
E verdadeiras como o azeite,
Que vem sempre a cima
E assim se mostra ao mundo,
Tão confiante neste clima
Que transborda um sentimento profundo.

E o Senhor se foi embora,
Lá para cima observar,
Esta nova e bonita história,
Que se começava a desenrolar.

Não sei como irá terminar,
Mas eu acredito naquele menino,
Porque da estrelinha ele vai cuidar,
Com todo o seu amor e carinho.



Dii
2-Mar-2007

terça-feira, 4 de maio de 2010

Ninguém me vê



O mundo passa lá fora,
Eu sento-me cá dentro.

Aqui tenho a segurança do certo,
Não arrisco no incerto,
Mas nem sempre faço o correcto.
Sou feliz sem ilusão, fantasia ou amor.

Lá fora a vida passa-me ao lado.
Não sei o que fazer ou como agir,
Sou livre ao sabor do vento,
Vou para onde me leva,
Todos os dias tenho novo alento,
Tenho a felicidade à minha espera.

Vivo cá dentro parado e seguro,
Envolto em paredes de segurança falaciosa,
Perco as sensações do mundo,
Uma vida nada graciosa...

Aqui não sou eu...
Mas aqui sou seguro...
Porque aqui...
Aqui ninguém me vê...




Diogo Miranda
7 – Jul – 08

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Elogio ao amor




"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas.Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber.
Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.
Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.
O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática.
O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.
Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, banançides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra.
O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos.
Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.
Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo.
O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. é uma questão de azar.
O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra.
A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina.
O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima.
O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente.
O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.
O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.
O amor é uma coisa, a vida é outra.
A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.
Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra.
A vida dura a Vida inteira, o amor não.
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Deixas ?



Hoje não vou sorrir,
Porque as folhas caiem,
Espelhando a minha dor
À medida que as palavras saiem.

Hoje não vou sair,
Porque o sol brilha,
Mas paira nuvem estranha
Sobre a minha ilha.

Sinto em desafogo,
Aperto no peito profundo,
Que me trai em tristeza,
Ofuscando o meu mundo.

As pálpebras que acolhem,
Meus olhos lagrimados,
Sentimentos não escolhem
Nestes lábios traçados.

A falta é palavra de ordem,
Sinónimo de saudade,
De festim com tua presença,
Quem te tirou de mim com maldade?

Foi a falta de verdade
E transparência necessária,
Porque é que não a têm
Numa outra faixa etária?

Causa dos meus problemas,
Dilemas, incertezas e constantes,
Ofuscam minhas qualidades,
Minhas vibrações cintilantes.

Deixem-me apenas viver,
Saiam do meu caminho,
Deixem-me enternecer,
A minha Menina de carinho…

É tudo o que peço…


Diogo Miranda
7-Mai-07

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Sorri




Pensei em escrever algo para ti,
Algo que te provocasse um sorriso,
Algo que disse-se: “sorri!”,
Apenas isso era preciso.



Então escrevi este poema,
Com mil letras e palavras queridas,
Mas todas elas sinceras
E todas por ti merecidas.



Porque és um doce na terra,
Tiras a amargura do ar,
Fazes-me a mim sorrir,
Apenas com o teu respirar.



Mesmo quando estás longe,
E eu te peço para sorrires,
Basta em ti pensar,
Para logo o céu abrires.


E deixas descer sobre mim,
Um calor que do sol escorre,
Me aquece e me devora,
Porque por ti, o meu pensamento não morre.


 
Então agora que leste
As linhas que eu escrevi,
Durante a tua viagem,
Faz-me um favor… e SORRI.



= P


Diogo Miranda
1-Mai-2007

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Quero eternamente




A possibilidade de querer criar algo novo
Bloqueia minha ordinária forma de pensamento,
Conseguir atingir diferença do povo,
É então o meu único alento.

Ser diferente!
Assim me quero sentir
Fugaz e audaz,
Sempre a rir.
Quero eternamente!

Atroz afinidade com os badalos da vida,
Lentamente perceptível que sou rotineiro,
E a capacidade da diferença conseguida,
Não passou de pessoal devaneio.

O grito!
Quero assim dentro do ego
Ambicioso e forte,
Sempre interregno.
Quero eternamente!

Mas grito premente de revolta traz
Apenas dor e nódoa para o eu,
E minha pessoa percebe incapaz,
De atingir tudo aquilo que sempre concebeu.

A alegria e o sorriso!
A brincadeira e o improviso!
A voz brincalhona!
A capacidade de nadar à tona!
A insustentável leveza do ser!
A ideia de sonhar e adormecer!

Quero para mim simplesmente…
Quero eternamente!




Diogo Miranda
26 – Mar – 2008

terça-feira, 27 de abril de 2010

Relegar com palavras


Ao som das palavras se move o mundo,
A um ritmo tão alucinante quanto profundo,
De tal modo que emerge do facilitismo
Elevando os pareceres para lá do abismo.

Criando e desenhando vastos e novos pensares,
Que retratam aventuras para lá destes mares,
Onde gerações de escritores se confundem em poesias,
E juntando novos refrões criam melodias.

Cada cor reflecte a palavra em si,
Mostrando o arco-íris que reside em ti,
Sempre com verde em fundo de pano,
Nunca olhando a verdade através dum cano.

Voando fixamente por cima de problemas,
Olhando de alto, na vida, os dilemas,
Com a mais pura força e eficácia
Que transmite o desabrochar de uma acácia.

Relegando o passado com alegria do esquecer,
Pondo os olhos no futuro com desejo do saber,
Deixando correr os olhos pela maré,
Desobstruindo caminhos com o apelido de fé.

Descobrir no Menino uma nova substância,
Com alegria vivida na passada infância,
Desenha sorrisos oriundos do sentimento
Que cose com agulha que Eu oriento.


“Face the problems and never look down, please.”





Diogo Miranda
2-Mai-07

sábado, 24 de abril de 2010

Oração de Raiva



Com que direito tiras tu
Deste efémero momento
Alguém que não te serve
Mas que afirma talento?

Com que direito levas quem pode
Alterar péssimos caminhos,
Alguém que se faz crer
Que possui em si pergaminhos?

Não tens o direito e não deves
Tu não és ninguém na terra
Resume-te ao teu paraíso
E deixa-nos felizes na guerra.

Podemos ter os nossos defeitos,
Mas com a guerra vivemos em paz,
Podemos nem ser perfeitos,
Mas disso ninguém é capaz.

Vivemos em correrias
E podemos nem dar valor,
Mas por não ser o que tu querias
Não nos venhas atormentar com dor.

Cremos que obcecados conseguimos
Ser alguém nesta vida,
Mas tu tens sempre que intervir
E por o teu dedo na ferida.

Não serás capaz de estar quieto,
Nesse teu trono omnipotente?
Deixa-nos na merda felizes!
Deixa-nos viver o presente!

Não é justo tirares quem amamos,
Muito menos um filho de mãe,
Tu não percebes que nós estamos.
Em família aqui, também?

E nem te escrevo mais linhas,
Porque neste momento não mereces,
Nem louvores, canções, orações…
Nem Amores, crenças ou preces.



Diogo Miranda                                                   13-12-2008

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Preserva . . .



A forma mais feliz de iniciar um poema,
Onde a tua pessoa quero enaltecer,
E tudo o que em ti me arrebata,
Bloqueia e fascina o meu ser.

Poderás perguntar-te o porquê,
De ser com esta palavra estranha,
De ser com esta que ninguém vê,
Seu significado e entranha.

É porque quero que preserves,
Tudo o que tens em ti,
E escolhi-a porque me serves
Quando personifico tudo o que li.

Li nas estrelas e nos astros,
Que teu brilho deveria seguir,
E evitando outros rastros,
Deixando-me ofuscar a sorrir.

Preserva esse teu mundinho,
Não deixes entrar qualquer estranho,
Porque enquanto me deixares eu alinho,
E ao pertencer-lhe aumento de tamanho.

Fazendo parte de teu mundo,
Sinto-me com altura de gigante,
Bate-me o coração mais profundo,
Solto-me numa alegria contagiante.

Nunca fui soldado de fortuna,
Em jogos, batalhas ou disputas,
Fui sempre alguém perturbado,
Refutado, contrariado, amargurado,

Mas contigo do meu lado,
Sinto-me assim…
Eu…eu próprio…
Em mim achado,
Em ti perdido,
Num olhar espelhado,
Num tempo infinito…


“By the way,
I’m trying to say,
I’ll be there,
Waiting for you…”

Diogo Miranda
7-Mar-08

terça-feira, 20 de abril de 2010

Parábola da Sombra



Tudo começou quando o sol não brilhava e a chuva era fonte de morte. O chão, impossível de ser caminhado, era de um escalpe sólido que transmitia a ideia de solidão. Os animais, irrigados de podridão e abstidos de vida, faziam transparecer a ideia de estática inerente a uma obra do Madame Tusseau. Neste ambiente furtivo e de inigualável repulsa passeias-te. Como quem procura por luz, fazes as hostilidades e ainda tornas tudo mais nefasto. Porquê essa atitude de raiva e incoerência?


De súbito, do meio deste nada movido por impulsos de maresia podre, surge um Antigo, com sapiência e mestria expande as últimas rezas antes de sucumbir à tua azia contagiante. “O tempo é bom conselheiro!”, sucumbe...

De certo não serão estas letras conjuntas que te farão esboçar a alegria que perdeste. “Estava louco, só pode?!”, pensas, enquanto prossegues o teu caminho acompanhado pelos intemporais minutos.

Passam novos dias, tão idênticos aos anteriores que para ti a sua companhia assemelha-se a uma qualquer sombra, que todos os dias projectamos inconscientemente. Criar uma sombra é um acto inconsciente, passar pela luz só compete aos lúcidos. Tu...continuas acompanhado por várias sombras. Cada vez mais. Cada vez mais.

Certa luz faz-te parar. Olhas para traz. Perplexas!!

A sombra que te persegue é imensa. Dizem que as sombras não aproveitadas nos perseguem até ao arrependimento. A tua sombra agora...trespassa o horizonte.

Surge no esquecimento, elaborado ao longo de várias sombras, a lembrança do brilho do sol; da vida emergente da chuva; do chão caminhável; dos animais atarefados e carregados de vida...

Insurges-te em tentativas de descodificação desse apodrecer repentino...“A culpa não foi minha”, é certo. Mas fazer cair a cabeça e alterar o habitável, é obra pessoal.

O Antigo revela-se certo.

Várias sombras passadas e a tristeza deu lugar à alegria. A podridão esbateu-se sob o domínio da fertilidade. A sombra... cobriu-se de luz, face ao frio que a assolava.

No fim, depois de tão rotinadas voltas dos ponteiros, a sapiência antiga surgia com qualidades de azeite. Revelou-se...

No final, basta apenas resistir à tentação de ensombrar o presente, meditar no passado, por mais frio e aterrador que seja, e limpar as sombras que nos seguem, alternando o sol brilhante e caloroso, com a sombra fresca e aconchegante.



“O sol é como a felicidade para o Homem – no entanto, a sombra é necessária para o seu bem-estar.”





Diogo Miranda

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O beijo . . .





O melhor beijo é o beijo desejado, o beijo que completa, o beijo com sabor de desejo na pele, no sexo...no amor...


O melhor beijo é o da vontade, o beijo que faz o pensamento, o beijo que faz a boca e o corpo querer um novo beijo outra vez.

O melhor beijo é o beijo sem tempo, o beijo de longa duração, o beijo de curta duração, o beijo de vinte segundos ou de vinte minutos, isso não importa, o que conta é que enquanto se beija o tempo pára.

E nesta inércia de tempo, só sinto a vontade louca de mais um beijo. Sinto a língua que de encontro com a minha faz um toque suave e excitante, humedecendo a minha alma... Sinto a língua que viaja dos dentes ao céu-da-boca... Sinto a língua que acarinha os meus lábios...sinto a língua...

A língua e a língua … a língua que me roça, que me percorre, que me navega, que me chama …

O melhor beijo é o beijo em que a língua faz o beijo e o beijo faz o amor … ai o Beijo!!

...

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O último



Se é o último do caderno,
Tem de brilhante ser,
Tem de ser especial,
Tem de te enternecer.

Tem de ser feito com gosto,
Tem de se encher de brilho,
Tem de reflectir o teu rosto,
Tem de te indicar o trilho.

Tem de te apontar a luz,
Tem de te iluminar o sorriso,
Tem de ser o que produz
Tudo aquilo que é preciso.

Tem de preencher o vazio,
Tem de marcar no coração,
Tem de ser mais que um mundo,
Tem de ser uma oração.

Tem de deixar de lado a dor,
Tem de me levar daqui,
Tem de me fazer sorrir,
E pensar que é por ti… que aqui escrevi.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Palavras Cruzadas



Trocadas as palavras e acordado o pacto,
Flúem agora expressões para o ar,
Apenas sentidas na expressão do olfacto,
Com cheiro verdejante de primaveril pomar.

Soltas nos cabelos do vento incerto,
Baralhadas em simplicidades mundanas,
Carecem apenas de sentido concreto,
Vertiginosamente tombadas sem canadianas.

Nas estrelas, no céu, nas projecções divinas,
Badaladas rimas ferem os corações,
Dos eloquentes vivãs das luzes citadinas,
Daqueles que sentem todas as orações.

Rabiscam descrevendo o que lhes vai no peito,
Suas veias penetradas ou sistemas pulmonares,
Vão e afogando-se perdem o respeito,
Porque em brancas folhas encontram seus lares.

A todos palavra minha de idolatração,
Sentida vénia de reconhecimento,
Neles crio fulgorosa relação,
Concretizada em aperto de cimento.

Polvorosa miscelânea de vertiginosas pessoas,
Incidem e decaiem em abismos de amor,
Calam-se ateus de vivências tão boas,
Guardando e sofrendo num misto de dor.
Sensibilidades que se cruzam para os que não sentem,
A estes sentido nunca antes atribuído,
Pois a nós, eloquentes, não interessam os que mentem,
Antes os que no peito têm amor imbuído.




Diogo Miranda
12 – Mar – 2008

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Resumo de (quase) um ano



Acho e até me vejo
Como uma pessoa fútil,
Alguém que eu praguejo
E rotulo de inútil.

Nada disso, direi eu!
Sou amplo e forneço alegria,
Para muitos sou apogeu
Para outros companhia.

Nisto entras na vida tu,
De rosto e cara tapada,
Depressa deixas a nu,
E penetras na minha fachada.

Desvendar teu mistério é fábula,
Que mil tormentas trará,
Difícil como uma rábula,
Mas que suponho sorrisos trará.

A meio da estrada parei,
Reflecti em tudo o que tive,
E ao ver que muito ganhei
Voltei à luta e a respiração contive.

Nunca com isto sonharia,
Nem sem bem o que aconteceu,
Pensei que um dia te conquistaria,
Mas depressa o sonho se desvaneceu.

E acordei nesta realidade sombria,
Em que a distância se impunha,
E tudo o que eu queria,
Tomou “sonho” como alcunha.

Esperar agora é distanciar
Do vínculo do que me faz feliz,
Porque ter-te ao pé a respirar
Foi tudo o que sempre quis.

Diogo Miranda
27-fev-08

terça-feira, 13 de abril de 2010

Palavras de Agradecimento


De que Graça abençoada,
Em que pessoa de Deus,
Devo entregar meus louvores
Por este anjo do céu?

Será de certo pessoa vivida,
Com beleza certamente divina,
Por à Terra ter doado,
Esta sua linda Menina.

A essa senhora dou graças,
Pela bênção que protagonizou,
Pois foi essa sua Menina,
Que o meu coração conquistou.

Porque mesmo sem o saber,
Essa senhora recebeu,
O maior tributo do mundo,
Quando a Menina o conheceu.

É só a si que agradeço,
O facto de hoje sorrir,
Porque sem a beleza da sua filha,
Isso seria impossível de conseguir.

E se em dia algum for presenteado,
Com a oportunidade de a conhecer,
Por certo ficarei corado,
Pois não sei como lhe agradecer.

Nem rosas, sorrisos ou luar,
Chegarão para agradecimento,
Porque aquilo que eu agradeço
É muito mais que um sentimento.

É uma maneira de sentir,
Que eu próprio desconhecia,
E que só o experimentei,
Quando conheci sua filha um dia.


Diogo Miranda

10-Mai-07

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Puto Boémio



Ano após ano,
Mudanças efectuadas são sentidas em vidas banalizadas.
Chegam às praias como grãos de areia,
Em milhões de ideais…
Por vezes em cadeia.

Sentam-se uns divagando horizontes,
Enquanto outros caminhando
Explanam suas dores entre pontes,
Como viajantes errantes lacrimejando.

São reflexos ganhos de dinheiros
Que bloqueiam veias de diversão,
E chegados um dia às praias, devaneios
Correm e saltam de livres que são.

Pena é que durante um ano se enclausurem,
Para em quinzenas fortuitas se banharem
De uma alegria que não usufruem,
Por escravos da sociedade serem.

Nestas praias de incansáveis viajantes da rotina,
Existe um que se deita de face para o céu,
Retendo seus sorrisos fugazes na retina,
E sorrindo por existir sem da vida ser réu.


Puto franzino que se deleita,
Com inúmeras ondas do mar,
Seus princípios ele respeita,
No seu incansável despertar.

Abdicou de vida mundana e banal,
Para viver sem moeda de troca,
Vive sozinho num grande areal,
Solto e livre como uma gaivota.

É boémio da vida que escolheu,
Traça dia a dia pegadas na sua liberdade,
Apagadas com o encher da maré,
Num novo amanhecer vê nova oportunidade.

Este é vivã!
É o símbolo de um apregoar de satisfação.
Ele grita…
Corre…
Sonha…
Vive…
Incessantemente…
Sempre do mundo diferente…


Diogo Miranda
9 – Abr – 2008

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Problemas


Queria puder voar,
Escolher o que sentir,
Das depressões afastar
Para sempre puder sorrir.

Queria a felicidade convocar,
Para mim… para a deter,
Para um dia despertar,
Com a certeza de te ter.

Mas dias são intrujas,
São ofegantes de problemas,
Que nos consumem e diluem,
E nos afastam das certezas.

Vêm e surgem simultâneos,
Como sol e calor a raiar,
Mas são sempre momentâneos,
Só temos de os enfrentar.

Com determinação e coragem,
Por nós passam e nos ensinam,
Que estando só de passagem
Pela nossa vida peregrinam.
Com eles eu aprendo,
Algo para a vida elementar,
Porque mesmo não os querendo,
Eles estão cá para me ensinar.

Então mantenho a calma,
A vida vou deixando fluir,
Porque quando eles passarem,
Aí… voltarei a sorrir…

Diogo Miranda
7-Mai-07

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Vem . . .

. . .agarra-me na mão e convida-me para um passeio
à beira-mar arejado,
maresia e cheiro a natureza na face,
sempre assim despreocupado,
beija-me e pede-me que te abrace...

Diz-me, assim, uma só vez baixinho,
ao ouvido e com carinho,
quero-te para mim,
só para mim menino,
quero-te te dar amor e beijos devagarinho.

E pede-me que não te largue,
que tua vida sem mim estremece com um suspiro,
cai e abana ao menor sopro de desejo,
que precisas de mim para o retiro,
que o teu coração vai percorrer,
no dia que me beijares de novo...
bater...
bater...
bater...
e nunca mais me largar...
para nenhum deles sofrer...



Diogo Miranda 3-out-08

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Nós



É quando o beijo não acontece,
E os rostos se tocam suavemente
Que surge essa magia premente
Que justifica o momento presente
E nos leva a pensar que podemos
Não eu…
Não tu…
Mas nós…
Nós…
Podemos tornar-nos eternos,
Sem enganos na chuva,
Ou faltas de luz no escuro,
Porque também nele há beleza,
Há magia e riqueza…
Basta querermos…
Os dois…
Continuarmos a ser “nós”.
 
 
 
28/05/2008
Diogo Miranda

terça-feira, 6 de abril de 2010

Desejo



Sentado numa rocha da praia
Olha para o céu um menino,
Que embora grande de espírito
É ainda um ser pequenino.

E sonhava um dia o ter,
O céu e todo o seu esplendor,
Mas como o via distante
Pensava ser impossível
Conquistar esse céu cativante.

Estendia a mão e chegava
Não ao céu mas à conclusão,
Que era pequeno de mais
Para o sentir na sua mão.

Mas mesmo sem perceber,
Que sem nada por isso ter feito,
Já era seu aquele mágico,
Aquele céu mais que perfeito.

Porque a sua alma é pura
E só isso chega para o merecer,
Por mais que seja a altura
O céu vai sempre a ele pertencer.



Diogo Miranda
13 – Abr – 2007

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O que não quero




...queria muito querer não te querer como eu quero...

... e...

... ter o poder para poder voltar a apoderar-me de mim…




...adormeci a sonhar que sonhavas o mesmo sonho que sonho...

...porque...

…pensei eu que sentias o mesmo que sinto sem ti...



...hmm...
 
 
Diogo Miranda
05/Abril/2010

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Reflexão ...


Já perdoei erros quase imperdoáveis,
Tentei substituir pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas inesquecíveis,
Já fiz coisas por impulso,
Já me decepcionei com pessoas que nunca pensei que me iriam decepcionar,
Mas também já decepcionei alguém sem querer magoar,
Já abracei para proteger,
Já sorri quando não podia,
Fiz amigos eternos,
Amei e fui amado,
Mas também já fui rejeitado,
Fui amado e não amei,
Já gritei e pulei de tanta felicidade,
Já vivi de amor e fiz juras eternas,
"Bati com a cabeça" muitas vezes,
Já chorei a ouvir música e a ver fotos,
Já liguei só para ouvir uma voz e nada dizer,
Apaixonei-me por um sorriso e deixei-me perder,
Já pensei que fosse morrer de tanta saudade
E tive medo de perder alguém especial (e acabei por perder).

Mas sobrevivi!
E ainda Vivo!
Não passo pela vida...Vivo!

Bom mesmo é ir a luta com determinação,
Abraçar a vida e viver com paixão,
Perder com classe e vencer com ousadia,
Porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é MUITO para ser insignificante...

No fim…

Quanto mais gostares do mar, mais bonito te parecerá…
E quanto mais esperares duma pessoa, mais ela te desiludirá.



Diogo Miranda
30-maio-2008

quarta-feira, 31 de março de 2010

Eterna Simplicidade



Não sinto nem sei,
Em que alma pousei
Sem razão para o fazer
De manhã ao anoitecer.

Rasgo folhas soltando gritos,
Das palavras e versos aflitos
Vivem sedentas as versões
De infinitos verões.

Que passam sempre de Outono,
A Inverno no seu trono,
Resplandecendo a Primavera,
E voltando a verão sua quimera.

Assim conto dias,
Perco soluços e mãos vazias,
Ganho muitos eternos minutos
Que são tão pouco resolutos.

E em caixão final de vida,
Traduz-se inglória investida,
Levo apenas dias e horas
E deixo-te cá fora, tu que choras.

Mas eterno serei nas memórias
Contando inúmeras infrutíferas glórias,
Em linhas que não desvendo,
Deixando ao acaso e não percebendo.

Diogo Miranda
25-01-08

terça-feira, 30 de março de 2010

Suddenly . . .



E de súbito,
Num lugar onde os olhos ficam quentes,
Caiem marés face abaixo,
Não têm sentido, são eloquentes,
Mas ainda assim, caiem…

Seu cair,
leve ar que subestimamos,
tem dor que peca por muita,
que magoa em tons castanhos,
mas ainda assim, magoa…

Tem orgulho,
Sentido que pesa no céu,
Atribulando-o em nuvens passageiras,
Sou frequente, raro sou réu,
Mas ainda assim, orgulhoso…

A atenção,
Aquela que grito e peço com veemência,
Negada chuva de calor,
Liberta-me da permanência,
Mas ainda assim, negada…

Mas ainda assim,
Caiem sem olhar à estrada…
Magoa porque deixamos…
Negada porque a procuramos…

Ainda assim…
Ainda assim…


Diogo Miranda

6-Mar-09

sábado, 27 de março de 2010

Mais que parabéns...obrigado!


Penso nestas horas…

Desde uma eternidade até hoje,
Foi relâmpago que rasgou o tempo,
Chegou rápido…tão rápido…
As ideias…muitas…
Filtrei, reflecti, pensei e agi…
Ohoo…
O mundo desabou…

Que eterna simplicidade,
No meu âmago penso em ti,
És magia, ilusão da minha vida…
Começou mais um dia…e pensei… em ti…

Hoje é o teu dia…
Tristezas fora!
Fato de rainha!
Salta-te o sorriso na cara…
“Esta vida é minha!!”

Nas asas de uma borboleta pintaram teu nome…
Um qualquer anjo enternecido com a tua beleza…
Foste criada com doçura…amor…
Sorriso de mar, olhos de sereia…princesa…

Palavras soltas…
O sol…
O mar…
A lua…
As estrelas…
As nuvens…
As ondas…
As brisas…
Fascinantes sem dúvida, mas tu…
Tânia… rainha de todas as divas!

Os ponteiros rodam…
Tic… Tac… Tic … Tac…
Seu andar leva a alegria e a fortuna…
Ao teu encontro, é claro!

Nasceste para vencer…
Espírito de guerreira…
Convincente…
Crente…
Senhora do seu destino…
Nunca te detenhas,
És livre de escrever o teu livro!!

Hoje como ontem,
A ampulheta suspende a areia…
O mar pára as ondas…
No coliseu levanta-se a plateia…
As pirâmides tramitam suas portas…
As borboletas aconchegam-se…
O mundo suspende as suas voltas…

Passas tu…e tudo se surpreende!

És tu o reflexo da alegria,
Lágrima de felicidade,
Pretexto para celebração…

És o toque de magia,
O sopro da eternidade,
O sangue no coração…

Que de todos os que te esperam,
Seja este um dos mais felizes,
Os dias que temos estão contados?
Vamos ser eternos… que me dizes?



Diogo Miranda
13, de Janeiro de 2009

sexta-feira, 19 de março de 2010

Pára ! !



Saiem uns e entram outros
Num corrupio inesperado de vida
Em que algo nunca muda
E o algo é a oportunidade perdida.

É água que escorre entre as mãos
Sem parar para saborear,
E quando queres ter o sabor
Já não há, ou está a escassear.

Nisto passam horas, passam dias
Em devaneio,
Passam ventos de mudança
E tu sempre no meio.

Abstraída dos vendavais
Que te tentam elevar a crescer
Mas pareces ir com os demais
E recusas-te a querer vencer.

Não se percebe como se afigura
Tal sensação de pacatez,
Mas continuas feliz e parada
Sem um pingo de sensatez.

Quem afinal quer viver sozinho?
Quem quer morrer sem viver?
Quem quer ser o vizinho,
E nunca ter ninguém para ver?

Não percebo quem é tal pessoa,
Nem tão pouco como pensa,
Mas onde andará esse juízo?
E qual será a sua recompensa?

Pára para pensar por favor!
Pára! E pensa em ganhar,
Prova uma vez o sabor
Daqueles que saboreiam sem parar.



Diogo Miranda
13-02-08

quinta-feira, 18 de março de 2010

Tecto do Mundo



É debaixo do tecto do mundo que me deito,
Virado de cara para a sua magnificência,
Crescem-me os olhos e para meu deleito
Percebo a sua beleza com consciência.

Obra de arte pintada por deuses,
Com mestria e sabedoria de pintores
Que com arte retratam pormenores
Como só o conseguem os escultores.

E para mim este palco é essência
Para a minha palavra de inspiração,
Porque enquanto escrevo tenho em mente,
A Menina que tento descrever com a mão.

Mas por mais versos lisonjeiros,
Que alguma vez consiga escrever,
Esses serão sempre passageiros
Ao tentar a Menina descrever.

Só sobrepondo-a a este pano,
Eu conseguiria uma aproximação,
Da beleza que Ela ao mundo transmite
E que, para mim, é inspiração.

Comparo-a com a tela dos deuses,
Pois em tudo se pode comparar,
O brilho destas estrelas
Ao brilho dos olhos… da Menina do Mar.



Diogo Miranda
07 - Abr - 2007

terça-feira, 16 de março de 2010

Sair em Liberdade



Conjugar-te no pretérito perfeito,
Assim o farei mais tarde ou mais cedo,
Deitar-me-ei então em meu leito,
E nele chorarei o meu medo.

Em leito descansado com meu mito,
Nada mais profetizarei então,
Comigo jaz minha força e meu grito,
E neles cada bater do meu coração.

Penso agora que nada faz sentido,
Procura eterna de felicidade em vão,
Fui expulso da beleza do Olimpo,
Por força exterior de furacão.

Nada mais sei que pensar…
Sentir…
Voar…
Lutar…
Ou sorrir…
Pára! Vai devagar…
Dizes-me entre lábios num sorriso.

És miúda e não te quero cortar asas,
Nada melhor há que voar e ser livre,
Mas enquanto o meu peito vazas,
Retiras-me algo que eu nunca tive.

Mas tu és pomba com vontade de sair,
És criança que gatinha e que explora,
Ainda não está no momento de intervir,
Mais vale resignar-me e ir-me embora…

Vou de consciência tranquila…
Cabeça levantada…
Peito aberto…
Cara lavada…
Sentimento desperto…

Vou…deixar-te livre como uma aurora…
Vou deixar-te viver e vou-me embora…

Porque eu amo liberdade…
E o resto tu já sabes,
Disse-te uma pessoa que amas de verdade.

Eu vou voar noutro céu,
Vou deixar de importunar teu futuro,
Vou deixar de ser réu,
E esperar por um sentimento (teu) mais puro.


Diogo Miranda
1 – Abr – 2008

sábado, 13 de março de 2010

Chuva . . .


A chuva que hoje me cai no manto,
Que outrora me lavara o espírito,
Humedece-o mais e abafa o canto,
Tornando-o austero e em forma de grito.

Escurecem as nuvens e desabam
Gotas pesadas de encenações vividas,
Na minha cara durezas que não acabam,
Sorrisos e gargalhadas nunca exprimidas.

A minha paisagem é assim encetada,
Em fundo preto e contornos acinzentados,
Na estrada da vida minha alma parada
Faz prever vindouros dias agonizados.

Se na água vires as minhas tristezas,
Verás na estradas poças lamacentas,
Pisadas e cheias de inúmeras rezas,
Transbordando de gotas cinzentas.

Na margem um leito de água que corre,
Com o vagar de quem veio para ficar,
E passando a nuvem que em mim chove,
Fica no seu espaço um sol por raiar.

Hoje sombrio meu dia apresenta
A inércia da minha força interior,
Em combater o mal que me atormenta,
Que se apresenta em ciúme e em dor.

Não sou poeta! Vivã tão pouco…
Apoderei-me de mau vício,
Tornei-me louco…

Desfez-se em minhas doces mãos
A água da esperança com que sonhei,
Por entre os dedos abriram-se vãos,
E neles passou o sonho que amei.

Hoje que paro e penso na água
Que dos meus olhos vi chover,
Não vejo felicidade, não vejo mágoa,
Vejo apenas um menino a sofrer.

Desta feita magoado com a vida que escolhi,
Por minhas opções a dor me tocou,
Não foi a Sr.ª mágoa que eu acolhi,
Mas foi ela que em mim se alojou.

Penso então no mal que em mim reside,

Acorda por vezes atormentado de alegria,
Mas rapidamente se lembra e agride
Este meu ego que não o queria.

Sol! Oh sol…porque tardas em raiar,
Apodera-te do meu céu
E faz-me acreditar…

Quero acreditar num dia novo,
Perceber que vale a pena ser eu,
Mostra-me teu brilho e satisfação,
Faz-me sentir que sou todo teu.

Que estarei contigo em dias de Verão,
Em dias que brilhas com todo o esplendor,
E nos dias chuvosos que provavelmente virão,
Faz com que não sinta nem ciúme nem dor.

Alegra meu ser secando as poças maliciosas,
Iluminando o que sinto e não me deixando mentir,
Perfuma-me a alma com cheiro de rosas,
Permite-me olhar para ver o que há-de vir.

E depois…
Quero sentar-me em ti e namorar a lua,
Beijar as estrelas e dançar com elas no céu,
Banhar-me em teu brilho com minha alma nua,
Ver chegar os cometas e poder levantar-lhes o véu.

E um dia…se permitires,
Gostava de te apresentar umas nuvens passadas,
Aquelas que tanto choveram no meu rosto,
Queria pegar nas dúvidas que ficaram paradas,
E mostrar-lhes que é dos teus raios que gosto.

Hoje sou poeta! Hoje sou vivã…
O papel resistiu à água,
Já me sinto livre…

O dia era sombrio mas combati-o fortemente,
Abanei as nuvens, pisei as poças e molhei a cabeça,
Fui de peito aberto e sem medo segui em frente,
Hoje tenho tudo o que um Deus mereça.

Não é muito mas é o que me faz feliz,
Não és tu, não é o meu sonho,
Mas é o que sempre quis…

Diogo Miranda
Some-Rainy-Day

sexta-feira, 12 de março de 2010

Non Sense




Que confusão de palavras,
Turbilhão na cabeça,
De ideias fugazes,
Sem ninguém que as conheça.

Perco sentidos, obstáculos à visão,
À crença de escrever um verso sincero,
Ter direito a fabular numa percepção,
Pôr na palavra o que digo com a palavra “quero”.

Ditongos, metáforas, frases sonantes…
Versos perdidos em folhas discretas,
Que se afirmam em rimas contagiantes,
Desaparecem por não atingir as minhas metas.

Busca do saber incessante,
Fé…palavra de base da vida,
Sapiência…como te quero, cativante,
Figura da minha alma perecida.

Cede o senso à busca do bem,
Divago nas ondas como balancé,
Sei que o farei como ninguém,
Em mar alto, sem nunca perder pé.

Sem sentido, inconsequente,
Estado de alma tardio,
Voz que sai deprimente,
Traz-me lume…acende o pavio.



Diogo Miranda
2-Mai-07

quinta-feira, 11 de março de 2010

Um dia . . .



As janelas assim corridas,
Escurecem o local de intimidade,
Onde as velas iluminam a alma,
E o coração se rende à verdade.

As flores gritam o seu cheiro,
Que envolve o ambiente com mestria,
Rebolam-se e deleitam-se pelo chão
À medida que se ouve a poesia.

Num ecrã mil imagens se sucedem,
Como cataratas de magias intensas,
E a surpresa que desassossega a alma,
Faz-nos esquecer as presenças.

Ali só conta o deleito do olhar,
O bater enfurecido e desmedido do coração
Que se espalha veloz pelo corpo
Arrepiando e tremendo o chão.

Mas tudo acaba…
As janelas abrem-se…
As velas dão o último suspiro,
Dando lugar ao fumo brando e ténue…
A música cala-se em respeito,
À porta das escolhas que as tranca naquele espaço…


Diogo Miranda
18 – Jun – 2008