Se a voz se esgana
e o tóxico ruído das máquinas
me perfura
vou até ele.
Adenso-me com fervor
no mais sublime da sua biologia
Subo fontes intactas
vou fundo ao ventre das planícies
contagiar a pele e os olhos
embeber as narinas cansadas
nos odores do universo inteiro
Levo-lhe
(porque não sei mentir)
tristes notícias do meu país
- Esta terra que me possui
é uma lágrima
bolor indigno no pão
e falso poema -
Nele sou todo um arrepio
movimento retardado e dado
por desejo e condição vadia
beijo destilado num ventre
ou sangue escorrendo
numa bacia
Sorvo-lhe a bravura e o calafrio
o corpo do cio
o rosto no impoluto mar
Conheço-lhe a fome e a rudeza
o beijo desfiado que fecunda
as fêmeas e os animais
Corpor é que oscila e domina
penetra e inflama
músculo de Ulisses
esperança de Helena
frémito de Roma em chamas
Às vezes visito-o
para colher consciência
e reinventar a liberdade
Olhando-o louco
insubmisso
sei-o não ter por condição
palavras indecisas
pupilas mecânicas
dos homens sem paixão
Drogo-me de ele
até mais não
morro e sou mais eu
e ele todo meu em sentir
sem horas ao roçar-lhe na pele
sou um suspiro que aflora
Aí sei...
a civilização não ser
mais que pura intervenção
de regras infundadas limites e
incandescente usurpação.
in Los rumbos del viento
António Teixeira e Castro
(Portugal)
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