terça-feira, 20 de abril de 2010

Parábola da Sombra



Tudo começou quando o sol não brilhava e a chuva era fonte de morte. O chão, impossível de ser caminhado, era de um escalpe sólido que transmitia a ideia de solidão. Os animais, irrigados de podridão e abstidos de vida, faziam transparecer a ideia de estática inerente a uma obra do Madame Tusseau. Neste ambiente furtivo e de inigualável repulsa passeias-te. Como quem procura por luz, fazes as hostilidades e ainda tornas tudo mais nefasto. Porquê essa atitude de raiva e incoerência?


De súbito, do meio deste nada movido por impulsos de maresia podre, surge um Antigo, com sapiência e mestria expande as últimas rezas antes de sucumbir à tua azia contagiante. “O tempo é bom conselheiro!”, sucumbe...

De certo não serão estas letras conjuntas que te farão esboçar a alegria que perdeste. “Estava louco, só pode?!”, pensas, enquanto prossegues o teu caminho acompanhado pelos intemporais minutos.

Passam novos dias, tão idênticos aos anteriores que para ti a sua companhia assemelha-se a uma qualquer sombra, que todos os dias projectamos inconscientemente. Criar uma sombra é um acto inconsciente, passar pela luz só compete aos lúcidos. Tu...continuas acompanhado por várias sombras. Cada vez mais. Cada vez mais.

Certa luz faz-te parar. Olhas para traz. Perplexas!!

A sombra que te persegue é imensa. Dizem que as sombras não aproveitadas nos perseguem até ao arrependimento. A tua sombra agora...trespassa o horizonte.

Surge no esquecimento, elaborado ao longo de várias sombras, a lembrança do brilho do sol; da vida emergente da chuva; do chão caminhável; dos animais atarefados e carregados de vida...

Insurges-te em tentativas de descodificação desse apodrecer repentino...“A culpa não foi minha”, é certo. Mas fazer cair a cabeça e alterar o habitável, é obra pessoal.

O Antigo revela-se certo.

Várias sombras passadas e a tristeza deu lugar à alegria. A podridão esbateu-se sob o domínio da fertilidade. A sombra... cobriu-se de luz, face ao frio que a assolava.

No fim, depois de tão rotinadas voltas dos ponteiros, a sapiência antiga surgia com qualidades de azeite. Revelou-se...

No final, basta apenas resistir à tentação de ensombrar o presente, meditar no passado, por mais frio e aterrador que seja, e limpar as sombras que nos seguem, alternando o sol brilhante e caloroso, com a sombra fresca e aconchegante.



“O sol é como a felicidade para o Homem – no entanto, a sombra é necessária para o seu bem-estar.”





Diogo Miranda

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