Que outrora me lavara o espírito,
Humedece-o mais e abafa o canto,
Tornando-o austero e em forma de grito.
Escurecem as nuvens e desabam
Gotas pesadas de encenações vividas,
Na minha cara durezas que não acabam,
Sorrisos e gargalhadas nunca exprimidas.
A minha paisagem é assim encetada,
Em fundo preto e contornos acinzentados,
Na estrada da vida minha alma parada
Faz prever vindouros dias agonizados.
Se na água vires as minhas tristezas,
Verás na estradas poças lamacentas,
Pisadas e cheias de inúmeras rezas,
Transbordando de gotas cinzentas.
Na margem um leito de água que corre,
Com o vagar de quem veio para ficar,
E passando a nuvem que em mim chove,
Fica no seu espaço um sol por raiar.
Hoje sombrio meu dia apresenta
A inércia da minha força interior,
Em combater o mal que me atormenta,
Que se apresenta em ciúme e em dor.
Não sou poeta! Vivã tão pouco…
Apoderei-me de mau vício,
Tornei-me louco…
Desfez-se em minhas doces mãos
A água da esperança com que sonhei,
Por entre os dedos abriram-se vãos,
E neles passou o sonho que amei.
Hoje que paro e penso na água
Que dos meus olhos vi chover,
Não vejo felicidade, não vejo mágoa,
Vejo apenas um menino a sofrer.
Desta feita magoado com a vida que escolhi,
Por minhas opções a dor me tocou,
Não foi a Sr.ª mágoa que eu acolhi,
Mas foi ela que em mim se alojou.
Penso então no mal que em mim reside,
Acorda por vezes atormentado de alegria,
Mas rapidamente se lembra e agride
Este meu ego que não o queria.
Sol! Oh sol…porque tardas em raiar,
Apodera-te do meu céu
E faz-me acreditar…
Quero acreditar num dia novo,
Perceber que vale a pena ser eu,
Mostra-me teu brilho e satisfação,
Faz-me sentir que sou todo teu.
Que estarei contigo em dias de Verão,
Em dias que brilhas com todo o esplendor,
E nos dias chuvosos que provavelmente virão,
Faz com que não sinta nem ciúme nem dor.
Alegra meu ser secando as poças maliciosas,
Iluminando o que sinto e não me deixando mentir,
Perfuma-me a alma com cheiro de rosas,
Permite-me olhar para ver o que há-de vir.
E depois…
Quero sentar-me em ti e namorar a lua,
Beijar as estrelas e dançar com elas no céu,
Banhar-me em teu brilho com minha alma nua,
Ver chegar os cometas e poder levantar-lhes o véu.
E um dia…se permitires,
Gostava de te apresentar umas nuvens passadas,
Aquelas que tanto choveram no meu rosto,
Queria pegar nas dúvidas que ficaram paradas,
E mostrar-lhes que é dos teus raios que gosto.
Hoje sou poeta! Hoje sou vivã…
O papel resistiu à água,
Já me sinto livre…
O dia era sombrio mas combati-o fortemente,
Abanei as nuvens, pisei as poças e molhei a cabeça,
Fui de peito aberto e sem medo segui em frente,
Hoje tenho tudo o que um Deus mereça.
Não é muito mas é o que me faz feliz,
Não és tu, não é o meu sonho,
Mas é o que sempre quis…
Diogo Miranda
Some-Rainy-Day
Sem comentários:
Enviar um comentário